Com pouco mais de 10 anos de idade, pedi à minha avó paterna que me ensinasse a fazer crochê, pois ela era uma crocheteira de “mão cheia”. Após várias tentativas sem exito achei que não conseguiria, pois por ser canhota, eu não conseguia entender como ela fazia todas aquelas laçadas e pontos com tanta agilidade. Até o dia em que encontrei uma crocheteira canhota, e começava aí minha experiência com trabalhos manuais.
Com 15 anos comecei a fazer curso de pintura em madeira e cerâmica, e vender as peças para vizinhos e familiares nas épocas natalinas e datas especiais.
Um dia folheando uma revista, vi uma reportagem sobre sabonetes pintados e decorados, que podiam ser usados normalmente, ou podiam ser utilizados como sachês. No dia seguinte pedi à minha mãe um dinheirinho para comprar os materiais, e comecei a fazer os sabonetes, forrei uma caixa de sapatos para ficar bem bonita, e levei para escola. Resultado: voltei com a caixa vazia e com pedidos para o dia seguinte, pois os sabonetes que levei não foram suficientes para todas as meninas que gostaram.
Esta experiência foi muito importante para mim, pois eu percebi a força que um belo trabalho causa nas pessoas, de qualquer idade, e também de como uma pequena atitude pode contribuir. Pois o dinheiro que eu ganhava passou a ajudar no orçamento familiar nos dias mais difíceis, o que me deixava muito feliz. Apesar da minha pouca idade, eu já era útil e ficava muito contente em ajudar, e tenho até hoje guardado, a folha da revista sobre os sabonetes pintados.
Meu sonho era fazer faculdade de artes plásticas, mas um dia minha mãe disse, “não temos dinheiro para pagar faculdade” e “ninguém vive de arte neste país, isto não dá dinheiro”. Foi difícil ter todos os meus sonhos e a criatividade, que mal começava à aflorar, ser “podado” pela raiz.
Segui minha vida, trabalhei em serviço administrativo por muitos anos, mas sempre dedicando um espaço aos trabalhos manuais. E foram muitos, pintura de diversos materiais, tricô, crochê, corte e costura e bordado em ponto cruz, (que confesso não ser meu melhor talento).
Apesar de gostar muito de trabalhos manuais, sempre tive dentro de mim um espaço reservado para o corte e costura. Não sei nem dizer o porquê, pois a facilidade de se comprar roupa pronta, não justificava a compra que fiz de uma máquina e o curso de corte e costura que comecei à fazer, com pouco mais de 20 anos de idade. E desde esta época, sempre que posso, coloco em meu guarda roupa, peças feitas por mim. Acredito que minha avó materna tenha contribuído muito para esta minha “vocação”, pois cresci vendo ela fazer desde vestidos de noivas e ternos, até roupinhas para minhas bonecas.
Até que o bordado feito à máquina surgiu na minha vida. Esta atividade se encaixou em mim como uma luva, pois pude “juntar” minhas melhores experiências e aprendizados, tudo que aprendi ao longo de mais de 20 anos, numa possibilidade de negócio e num trabalho “delicioso”.
Pois não basta uma máquina de bordar, é preciso gosto pelo artesanato e bom gosto para a seleção das peças e dos bordados, é preciso entender de tecidos e costura para a confecção das peças, é preciso uma “boa dose” de conhecimento em informática para poder criar e editar os programas de bordados em software apropriado, é preciso boas noções de negócios para gerar lucros e assim poder levar um negócio para frente e não apenas ter uma renda extra.
Hoje sei que é isto que quero fazer para sempre, sei que apesar de todas as dificuldades de se ganhar dinheiro com peças “artesanais”, é possível sim viver de arte. Mas é preciso também vários outros conhecimentos, e se aperfeiçoar nas técnicas e nas ferramentas é fundamental para executar tudo que a sua criatividade “monta em sua cabeça”.
Sei também que somos a mistura das experiências vividas com nossos familiares e seus melhores exemplos, nossos gostos pessoais junto à vontade de se aperfeiçoar dia após dia.
E não achar que o que fazemos hoje “está bom”, pois tenho certeza que sempre podemos fazer melhor...